terça-feira, 20 de março de 2012

Heleno de Freitas - O craque Galã

É uma lenda porque: foi o maior idolo botafoguense na era pré-Garrincha, que uniu talento a rebeldia e polêmicas.

Poucos jogadores na história conseguiram unir elegância, talento e raça no mesmo repertório de habilidades, e entre esses poucos se encontra Heleno de Freitas. Um dos maiores artilheiros da história do Botafogo com 209 gols, foi colocado no patamar de Zizinho, Ademir de Menezes, Leônidas da Silva e tantos outros craques da época.

Advogado formado, dono de uma personalidade tempestiva e de inteligência acima da média para jogadores contemporaneos, colecionava polêmicas dentro e fora de campo. Orgulhoso, não costumava perdoar nem seus companheiros quando derrotado. Era integrante da alta nobreza do Rio de Janeiro e do "Clube dos cafajestes", uma pseudo associação de homens boêmios. Mulherengo assumido e convicto, entre seus diversos casos, falava-se até de ter se relacionado com Evita Perón durante sua passagem pelo Boca Juniors, na Argentina.

Apesar de poucos titulos na carreira (um, para ser mais exato, o campeonato Carioca de 49, pelo Vasco da Gama), seu talento foi imortalizado com a camisa do Botafogo, tendo em seguida se destacado pelo Boca Juniors, Vasco da Gama e pela seleção Brasileira, onde marcou 15 gols em 18 jogos.

Um grande craque mas pouco conhecido hoje em dia, Heleno de Freitas poderia ser adaptado aos tempos modernos como Adriano, o Imperador, dadas as devidas mudanças de personalidade entre ambos. Jogadores espetaculares, com grande fama e respeito em suas épocas, mas que trocaram a o futebol por uma vida boêmia. 

Mas Heleno pagou caro por essa troca, falecendo em um sanatório aos 39 anos de idade, enlouquecido pela sifilis. Heleno foi um exemplo de muitas coisas. Foi um exemplo de jogador dentro de campo, de personalidade forte e orgulho, mas também de como não se portar em sua vida pessoal.

Nas ultimas semanas entrou em cartaz um filme sobre um jogador chamado "Heleno", estrelado por Rodrigo Santoro no papel da dita lenda. Para maiores detalhes e curiosidades sobre o jogador, fica a recomendação, não apenas para botafoguenses para para todos os apaixonados e curiosos pelo futebol.



Frases sobre ele: - "O futebol, fonte das minhas angústias e alegrias, revelou-me Heleno de Freitas, a personalidade mais dramática que conheci nos estádios deste mundo". - Armando Nogueira, jornalista, botafoguense e grande fã de Heleno de Freitas.

terça-feira, 6 de março de 2012

Arsenio Erico - El Saltarín Rojo

É uma lenda porque: maior artilheiro da história do campeonato argentino, tido até hoje como o maior jogador da história do Paraguay (mesmo sem ter atuado pela seleção).

Talvez por limitações na comunicação da época, essa lenda não teve a fama que merecia. Mas em qualquer canto da Argentina e principalmente do Paraguay, este homem é conhecido, respeitado e idolatrado.

Nascido em Assunção e de decendencia italiana, Arsenio Erico inicou a carreira com apenas 15 anos no Nacional do Paraguay, equipe conhecida até hoje como "La más querida", por tamanha simpatia que gera na população. Mas graças a "Guerra do Chaco" entre Paraguay e Bolivia, teve que parar a carreira. Por não ter idade na época para ingressar o exército, foi convidado a participar de uma equipe da Cruz Vermelha, com o objetivo de arrecadar dinheiro e donativos para os feridos durante a guerra. Em uma dessas viagens, chamou a atenção de olheiros argentinos, que após negociações com o governo paraguaio (já que o ainda jovem atacante estava servindo seu país na guerra, não poderia simplesmente abandonar sua nação, por isso as negociações de transferência foram feitas com o próprio governo), conseguiram levá-lo ao Independiente de Avellaneda. Em sua despedida, prometeu que um dia voltaria ao Nacional para conquistar um Campeonato paraguaio.

Após um inicio de carreira em conturbado com poucos gols e marcado por lesões nos gramados argentinos, Arsenio marca mais de 40 gols em três temporadas consecutivas, entre 37 e 39, sendo determinante no titulo do campeonato argentino dos "Diablos Rojos" em 1938. Titulo marcado como o primeiro do clube na "Era Profissional" no futebol da Argentina.

Durante as 13 temporadas em que jogou em Avellaneda, Erico estabeleceu o recorde de 295 gols marcados no campeonato argentino. Marca a qual até hoje ninguém alcançou no futebol portenho. Após desentendimento com dirigentes do Independiente, voltou ao Nacional na temporada de 1942 para cumprir sua promessa feita muitos anos antes, ganhando o campeonato paraguaio daquele ano como o destaque da competição. Na temporada seguinte, retornou a Avellaneda, onde permaneceu até 47, onde já veterano, foi negociado com o Húracan. Sem sucesso, retornou ao Nacional para encerrar sua carreira em 49.

Em tempos onde a honra valia mais do que o dinheiro, Erico chegou a recusar um convite para naturalização Argentina. A idéia era da seleção local montar uma equipe forte para vencer a Copa de 1938, mas tal convite foi declinado. Alegando que era paraguaio antes de tudo, não poderia cometer tal "desonra" a sua terra natal. Mesmo perante os orgulhosos argentinos, sua atitude não foi repudiada, mas sim admirada e aplaudida, engrandecendo ainda mais sua lenda.

Chegou a ser homenageado no estádio Defensores del Chaco no final dos anos 60, durante um amistoso entre Paraguay x Argentina, onde foi aplaudido em pé por todo o estádio, tantos por argentinos quanto paraguaios.

Faleceu devido a problemas cardiacos em 23 de julho de 1977. No dia seguinte a sua morte, o Independiente venceria o River Plate, um de seus grandes rivais (além de ser uma das equipes que mais sofreram gols de Erico) em uma partida emocionante por 2 x 1, de virada. Após o segundo gol dos "Rojos", a torcida da casa cantava "Se siente! Se siente! Erico está presente...!". O clube providenciou tanto o funeral quanto o enterro para o ex-jogador, sepultado no cemitério de Moron, na grande Buenos Aires, a 65 km de Avellaneda. Tanto a torcida quanto dirigentes e companheiros participaram da marcha funebre em homenagem ao seu grande ídolo. Lembrando que não haviam tantas estradas e pistas de asfalto na época, todos os envolvidos seguiram até o fim do trajeto da maneira que lhes fosse possível, mostrando qual foi o tamanho da idolatria e paixão que este homem causou.


No Paraguay, um herói. Na Argentina, um recordista, eternizado por seus feitos e gols. Em Avellaneda, um Deus. Apesar de pouco conhecido pelas gerações recentes, Erico é referência e integra o "hall" dos grandes mestres do passado, junto de Leônidas da Silva, Friedereich, Obdulio Varela, Angel Labruna e Giuseppe Meazza.

Pena que como esses, não há muitas imagens de seus feitos. Mesmo assim, sua lenda permanece viva pela América a fora, no estádio do Nacional em Assunção batizado com seu nome, nos corações do torcedores do Independiente e na alma de todos aqueles que amam o futebol e sabem reconhecer um de seus maiores mestres.




Frases sobre ele:

- "Um milênio se passará sem que outro consiga sua proeza: a dos gols de calcanhar ou de cabeça!"  - Catúlo Castillo, poeta Argentino.

- "Possuia compartimentos secretos em seu corpo, onde escondiam molas. É a unica explicação para sempre vencer os goleiros no salto com seus gols de cabeça. E seu calcanhar, tal maestria, não satisfeitos e fazer gols, ainda dava-os a seus companheiros." - Eduardo Galeano, escritor e jornalista argentino.

- "Fui apenas seu imitador. Nada mais." - Alfredo Di Stéfano, um dos maiores lendas do futebol e fã confesso de Arsenio Erico.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Romário de Souza Faria - O Baixinho

É uma lenda porque: Com todo respeito as outras lendas, se não fosse por este cara, com certeza eu não teria a mesma paixão pelo futebol que tenho hoje.

(Essa lenda é diferente. Exitei muito tempo para escrever sobre ela pois provavelmente me deixaria levar pelo fanatismo e pela idolatria ao mesmo. Mas como preciso retomar o blog e tirar a poeira dele, ninguém melhor para comerçar, pois não?)

Eu era uma criança de 6 anos em 1994. Não entendia e nem me interessava muito por futebol. Minha vida era simples e se resumia a acordar de manhã, assistir meus desenhos, ir a escola, voltar e brincar com meus bonecos. Mas não podia deixar de notar o quanto todos se movimentavam e se animavam com a Copa do Mundo nos Estados Unidos. Ruas pintadas de verde e amarelo, luvinhas da vitória com o "V" sendo vendidas, bolas de futebol pra todo lado... nem parecia que um ano antes as pessoas ainda estavam apreensivas com o ultimo jogo que restava pelas eliminatórias, contra o Uruguay, um adversário tradicionalmente dificil e que já causara muitos problemas ao Brasil no passado.

O povo estava tenso, já que a seleção brasileira, dirigida na época por Carlos Alberto Parreira não convencia e nem agradava os torcedores e o pior, precisava vencer essa essa partida de qualquer maneira para se classificar para a Copa. Muito criticado, Parreira não teve outra opção a não ser ouvir o clamor popular, que pedia a convocação de um jogador com quem o técnico e seu assistente Mario Jorge Lobo Zagallo, haviam se desentendido. E este jogador era Romário, atacante do Barcelona, craque do time e que há muito era pedido pelo povo brasileiro como titular na seleção. E todos sabemos como foi esse jogo...

Ali começava meu facínio e minha admiração por esse jogador. Passei a me informar das maneiras que eram possiveis na época (para uma criança). Pelos lances e noticias da TV Cultura, assistia-o fazer diversos gols pelo Barcelona. 

Por fim chega a Copa dos Estados Unidos. Lembro-me bem que antes do embarque da seleção, uma repórter o entrevistou e ele garintiu: "Eu vou trazer aquela taça pro Brasil.". Percebia então como esse jogador era diferente. "Falastrão", não demonstrava medo da responsabilidade que o Brasil tinha naquela Copa. Afinal, já se passavam 24 anos desde o ultimo titulo da seleção em uma Copa. Grandes equipes já haviam falhado nessa missão. E onde tantos outros gênios falharam juntos, Romário, sozinho, triunfou brilhantemente. Até aquele ano diziam que apenas dois jogadores foram capazes de "ganhar uma Copa do Mundo sozinho", sendo eles Garrincha pelo Brasil em 62 e "Don" Diego Maradona em 1986 pela Argentina. Pois em 94, o mundo viu Romário "imitar" essas duas grandes lendas e ser o principal destaque pela campanha vitoriosa do Brasil, participando de praticamente todos os gols da equipe, hora fazendo-os ou hora dando passes, assistências, sofrendo faltas e penaltis (e até desviando da trajetória de um gol de falta).

No ano seguinte voltou ao Brasil, para formar o "ataque dos sonhos" no Flamengo, deixei de acompanhá-lo um pouco, mas ainda sabia de sua importancia para o país e sempre ouvia que o Baixinho se sagrava artilheiro de mais algum torneio, seja por seus clubes ou pela seleção. 

Quando "cresci", já com mais discernimento, tive a honra de presenciar outros grandes momentos de sua carreira. O vi ser aplaudido pela torcida do Corinthians após marcar dois gols e mandar a mesma se calar em pleno Pacaembu, em 1999. O vi marcar 3 gols e comandar a virada do Vasco na Copa Mercosul, após sua equipe estar perdendo para o Palmeiras por 3 x 0 e com um jogador a menos. Me surpreendi quando marcou 73 gols numa temporada no Brasil, no ano 2000, e ser artilheiro do Campeonato Brasileiro de 2005 com quase 40 anos. Lamentei seu corte na Copa de 98 e reclamei ainda mais de sua ausência na Copa de 2002. Vi por diversas vezes ele prometer gols ou jogadas espetaculares antes de partidas grandes, importantes e decisivas, e pásmen, cumprir tudo que havia dito. Me emocinei quando cumpriu outra promessa, dessa vez feita a seu pai, ao vestir a camisa e se tornar dirigente do clube do coração de "Seu Edevair", o América-RJ.

 E sem nenhuma vergonha, digo que comemorei, vibrei e chorei no dia do seu milésimo gol. Gol este que selava sua principal promessa, feita em 1988, quando ainda era um jovem que não sabia quão grandioso seria seu futuro.



Romário encantou gerações de admiradores do futebol por todo o mundo. Desde pessoas mais velhas, que antes haviam visto Pelé, Di Stefano, Puskas, Cruyff e outros, quanto jovens e crianças como eu era, jornalistas e jogadores e treinadores contemporaneos. Já foi dito por muita gente que sua eficiência e posicionamento dentro da área foram superiores até as de Pelé (e isso dito por quem viu ambos jogar). Na Holanda é tido como o maior idolo da história do PSV, onde possui uma estatua semelhante a que tem em São Januário. E na Espanha, mesmo com as gerações recentes de Messi, Ronaldinhos e Rivaldo, sempre é lembrado como um dos maiores jogadores do clube. E tudo isso ele conseguiu sem ser um "atleta", como ele mesmo bem definiu. Ai cabe a eterna duvida para muita gente: se ele foi o que foi sem levar treinamentos a sérios, conciliando uma agitada vida norturna à carreira de jogador, como teria sido se tivesse sido um "atleta", que se preparasse e chegasse cedo aos treinamentos, etc..? Teria antecipado seu milésimo gol? Chegaria mais perto da marca de gols de Pelé? Conquistaria mais do que conquistou?

Em meio a frases polêmicas, vida noturna, confusões dentro e fora de campo e uma carreira irretocável e respeitada pelo mundo até hoje, resolveu recentemente iniciar uma vida politica. E como deputado, mais uma vez vem surpreendendo a todos, como provavelmente o politico mais atuante na câmara dos deputados, já planejando uma candidatura para a prefeitura do Rio de Janeiro num futuro próximo. 

Com toda essa carreira e história, tudo que tenho a dizer é obrigado, Romário.

Obrigado por me apresentar ao futebol e por me tornar tão fanático por esse esporte. Obrigado por me mostrar como nunca fugir ou desistir em momentos decisivos. Obrigado por me mostrar que nenhuma meta é impossivel, não importa quanto tempo dure. E muito obrigado por mostrar como é possível honrar palavras e promessas, sem nenhum medo de expor sua opiniões.


Frases sobre ele:

- "Desculpe, mas no meu time os melhores jogam com a 10". - Johan Cruyff, técnico do Barcelona de 88 a 94, quando Romário pediu para usar a camisa 11 da equipe Catalã.

- "Dentro de campo, foi um atacante acima da média. Ao encerrar a carreira, o futebol perdeu um artista da bola e um jogador que não tinha vergonha de dizer o que pensava.Esse é o papel de todo cidadão, especialmente de um ídolo" - Paulo Cesar Vasconselos, diretor de redação do SporTV.

- "O jogador mais interessante com quem já trabalhei foi Romário. Era o tipo de cara que fazia gols com facilidade. Antes de partidas cruciais, quando se está um pouco nervoso, ele chegava para mim e dizia "coach, tranquilo, Romário vai marcar e nós vamos ganhar". E ele realmente marcava. Nem todas as vezes, mas em oito de dez jogos como aqueles ele marcaria o gol da vitória." - Guus Hiddink, técnico do PSV entre 88 e 92.

- “Vindo sabe-se de que região do ar, o tigre aparece, dá seu bote e se esfuma. O goleiro, preso na sua jaula, não tem tempo nem de piscar. Num lampejo, Romário mete seus gols de meia volta, de bicicleta, de voleio, de trivela, de calcanhar, de ponta ou de perfil. [...] Nasceu na miséria, na favela do Jacarezinho... Subiu à fama sem pagar os impostos da mentira obrigatória: esse homem muito pobre se deu sempre ao luxo de fazer o que queria, freqüentador da noite, festeiro, e sempre disse o que pensava sem pensar no que dizia”. - Eduardo Galeano, crônista uruguaio.

- "O melhor de todos (os brasileiros) era o Romário. Melhor que qualquer outro. Para mim, o melhor jogador do Brasil na história.[...] Muitos brasileiros fizeram parte da minha vida, como Ronaldo, Rivaldo, Giovanni. Mas Romário foi o top dos tops." - Hristo Stoichkov, maior jogador da história da Bulgaria e companheiro de ataque de Romário no Barcelona.

- "Grandissimo. Nunca vi até hoje alguém com um faro de gol tão bom. Dentro da área nunca perdia uma chance." - Roberto Baggio, grande idolo italiano e adversário de Romário na final da Copa de 94. 

- "Quando cheguei ao Vasco, Romário foi logo dizendo: "Você sabe que eu não gosto de treinar de manhã, só a tarde, estamos entendidos!? "Eu disse: vamos treinar pela manhã e ele reclamou: "Puta merda!" Sempre admirei a franqueza dele e seu compromisso com a lealdade. Era direto; quando descordava de alguma coisa, falava pela frente". - Joel Santana, atual técnico do Flamengo.

- "Eu te amo!!!" - Bebeto após marcar o gol da classificação do Brasil contra os Estados Unidos na Copa de 94, com assistência de Romário.