quarta-feira, 3 de março de 2010

Manuel Fransciso dos Santos, Garrincha - O anjo das pernas tortas.


É uma lenda porque: Nenhum jogador na história do futebol foi tão querido quanto ele.

Era apenas mais um dia típico de treinos no clube do Botafogo de Futebol e Regatas, em 1953. Sabe-se lá de onde, um jovem de 20 anos aparece convidado sabe-se lá por quem, para fazer um teste e ingressar na equipe principal do clube. Ao verem o franzino moço com um aparente "defeito" nas pernas, alguns jogadores e dirigentes não o levaram a sério, mas o deixaram continuar. Eis que em seu primeiro toque na bola, ele resolve enfrentar justamente o então lateral esquerdo titular do clube e da seleção brasileira, Nilton Santos. E qual não foi a surpresa de todos os presentes, ao verem o já consagrado idolo, apelidado de "A Enciclopédia", literalmente aos pés do ousado rapaz. No fim do treino, o próprio Nilton Santos exigiu a contratação do garoto. E ao perguntarem seu nome, ele se apresentou apenas com seu apelido: "Garrincha". "Mané Garrincha", como era conhecido, encantou o Brasil e o Mundo nos anos seguintes jogando pelo Botafogo do Rio de Janeiro.

A maneira com que misturava ousadia e irreverência dentro dos gramados elevou o futebol nacional a um novo nível totalmente diferente. Graças a ele, o termo "futebol arte" se tornou popular, e suas pernas tortas, anteriormente vistas com motivo para gozações, se tornaram o diferencial em seu estilo de jogo.

Pouco lhe importava o adversário, a importancia da partida ou do torneio. Qualquer marcador se tornava "João" ante sua velocidade e seus dribles desconcertantes. A maior prova disso é sua passagem pela seleção brasileira. Iniciando sua trajetória pela mesma em 1957, mas tendo destaque na Copa do Mundo de 1958 ao lado e um adolescente chamado Pelé (o qual jogando juntos, nunca souberam o que é uma derrota), fez um total de 60 jogos e apenas uma derrota, entre três Copas do Mundo jogadas, duas conquistadas, sendo uma dita até hoje como que Garrincha a venceu sozinho.
Carlos Drummond de Andrade se referia a Garrincha como "Um agente enviado pelo Deus do Futebol, para zombar de tudo e todos. Porém, tal Deus era também cruel e farsante, pois não lhe deu o discernimento para perceber sua posição de agente divido". Durante sua carreira, sua genialidade em campo era contrastada por sua ignorância fora dele. Com problemas de alcoolismo e sua "fraqueza" para  com mulheres, somados a um inicio de problemas em seus joelhos, Mané saiu do Botafogo em 1963 para se tornar mais um nômade do futebol. Passou por outros clubes do país e de fora, mas jamais conseguiu o mesmo brilho, encerrando por fim sua carreira profissional em 1972.

A partir dai, o alcoolismo e a depressão passaram a ser seus maiores adversários. Muitos o tentaram ajudar, mas ninguém obteve sucesso. Desde ajuda vindas do clube por onde se eternizou e até por amigos. Mas no dia 19 de Janeiro o Brasil chorou ao saber da morte daquele que por muito tempo foi chamado de "A Alegria do Povo". 
Como então definir a lenda Garrincha? Teria sido ele realmente um "Agente do Deus do Futebol"? Seria ele então uma peça unica? E quanto mais ainda teremos de esperar que esse tal Deus seja piedoso o suficiente para nos enviar outro anjo irreverente para que nos dê tanta alegria semelhante? Afinal, muitas vezes ouvimos coisas como "Determinado jogador fez uma jogada de Pelé", "Fulano era habilidoso como Maradona", "Beltrano inteligente como Cruyff". Mas jamais escutamos algo como "Ele nos fez rir e sonhar como Garrincha."




Frases sobre ele:

- "De onde apareceu esse cara ? Contrata logo, senão nunca mais vou poder dormir sossegado." - Nilton Santos, após o 1º treino de Garrincha no Botafogo.

- "Em cinquenta anos de futebol, jamais apareceu um jogador como ele" - Jornal inglês Daily Mirror, após a vitória do Brasil por 3 x 1 contra a Inglaterra na Copa do Mundo de 1962.

- "Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios." - Carlos Drummond de Andrade.

- "Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam, e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho." - Carlos Drummond de Andrade

6 comentários:

  1. Excelente texto Helder. Garrincha mito.

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  2. Belo texto. Alguns dizem que foi melhor que Pelé.

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  3. Garrincha com suas pernas tortas a deixar os marcadores tortos ... MITO!

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  4. Muitos da época o idolatram mais que o próprio Pelé.

    E eu tenho lá minhas dúvidas se ele não foi melhor que o Rei.

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  5. Foi Ótimo, porém por pouco tempo devido sua irresponsabilidade e inocência, isso o fez ser abaixo de Pelé, tinha muito potencial e Inteligência! Palmas para o Craque!

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