terça-feira, 6 de março de 2012

Arsenio Erico - El Saltarín Rojo

É uma lenda porque: maior artilheiro da história do campeonato argentino, tido até hoje como o maior jogador da história do Paraguay (mesmo sem ter atuado pela seleção).

Talvez por limitações na comunicação da época, essa lenda não teve a fama que merecia. Mas em qualquer canto da Argentina e principalmente do Paraguay, este homem é conhecido, respeitado e idolatrado.

Nascido em Assunção e de decendencia italiana, Arsenio Erico inicou a carreira com apenas 15 anos no Nacional do Paraguay, equipe conhecida até hoje como "La más querida", por tamanha simpatia que gera na população. Mas graças a "Guerra do Chaco" entre Paraguay e Bolivia, teve que parar a carreira. Por não ter idade na época para ingressar o exército, foi convidado a participar de uma equipe da Cruz Vermelha, com o objetivo de arrecadar dinheiro e donativos para os feridos durante a guerra. Em uma dessas viagens, chamou a atenção de olheiros argentinos, que após negociações com o governo paraguaio (já que o ainda jovem atacante estava servindo seu país na guerra, não poderia simplesmente abandonar sua nação, por isso as negociações de transferência foram feitas com o próprio governo), conseguiram levá-lo ao Independiente de Avellaneda. Em sua despedida, prometeu que um dia voltaria ao Nacional para conquistar um Campeonato paraguaio.

Após um inicio de carreira em conturbado com poucos gols e marcado por lesões nos gramados argentinos, Arsenio marca mais de 40 gols em três temporadas consecutivas, entre 37 e 39, sendo determinante no titulo do campeonato argentino dos "Diablos Rojos" em 1938. Titulo marcado como o primeiro do clube na "Era Profissional" no futebol da Argentina.

Durante as 13 temporadas em que jogou em Avellaneda, Erico estabeleceu o recorde de 295 gols marcados no campeonato argentino. Marca a qual até hoje ninguém alcançou no futebol portenho. Após desentendimento com dirigentes do Independiente, voltou ao Nacional na temporada de 1942 para cumprir sua promessa feita muitos anos antes, ganhando o campeonato paraguaio daquele ano como o destaque da competição. Na temporada seguinte, retornou a Avellaneda, onde permaneceu até 47, onde já veterano, foi negociado com o Húracan. Sem sucesso, retornou ao Nacional para encerrar sua carreira em 49.

Em tempos onde a honra valia mais do que o dinheiro, Erico chegou a recusar um convite para naturalização Argentina. A idéia era da seleção local montar uma equipe forte para vencer a Copa de 1938, mas tal convite foi declinado. Alegando que era paraguaio antes de tudo, não poderia cometer tal "desonra" a sua terra natal. Mesmo perante os orgulhosos argentinos, sua atitude não foi repudiada, mas sim admirada e aplaudida, engrandecendo ainda mais sua lenda.

Chegou a ser homenageado no estádio Defensores del Chaco no final dos anos 60, durante um amistoso entre Paraguay x Argentina, onde foi aplaudido em pé por todo o estádio, tantos por argentinos quanto paraguaios.

Faleceu devido a problemas cardiacos em 23 de julho de 1977. No dia seguinte a sua morte, o Independiente venceria o River Plate, um de seus grandes rivais (além de ser uma das equipes que mais sofreram gols de Erico) em uma partida emocionante por 2 x 1, de virada. Após o segundo gol dos "Rojos", a torcida da casa cantava "Se siente! Se siente! Erico está presente...!". O clube providenciou tanto o funeral quanto o enterro para o ex-jogador, sepultado no cemitério de Moron, na grande Buenos Aires, a 65 km de Avellaneda. Tanto a torcida quanto dirigentes e companheiros participaram da marcha funebre em homenagem ao seu grande ídolo. Lembrando que não haviam tantas estradas e pistas de asfalto na época, todos os envolvidos seguiram até o fim do trajeto da maneira que lhes fosse possível, mostrando qual foi o tamanho da idolatria e paixão que este homem causou.


No Paraguay, um herói. Na Argentina, um recordista, eternizado por seus feitos e gols. Em Avellaneda, um Deus. Apesar de pouco conhecido pelas gerações recentes, Erico é referência e integra o "hall" dos grandes mestres do passado, junto de Leônidas da Silva, Friedereich, Obdulio Varela, Angel Labruna e Giuseppe Meazza.

Pena que como esses, não há muitas imagens de seus feitos. Mesmo assim, sua lenda permanece viva pela América a fora, no estádio do Nacional em Assunção batizado com seu nome, nos corações do torcedores do Independiente e na alma de todos aqueles que amam o futebol e sabem reconhecer um de seus maiores mestres.




Frases sobre ele:

- "Um milênio se passará sem que outro consiga sua proeza: a dos gols de calcanhar ou de cabeça!"  - Catúlo Castillo, poeta Argentino.

- "Possuia compartimentos secretos em seu corpo, onde escondiam molas. É a unica explicação para sempre vencer os goleiros no salto com seus gols de cabeça. E seu calcanhar, tal maestria, não satisfeitos e fazer gols, ainda dava-os a seus companheiros." - Eduardo Galeano, escritor e jornalista argentino.

- "Fui apenas seu imitador. Nada mais." - Alfredo Di Stéfano, um dos maiores lendas do futebol e fã confesso de Arsenio Erico.

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